Sobre
É através da participação, definida como o envolvimento em situações de vida real (OMS, 2001, 2007), que as crianças formam amizades, desenvolvem competências, expressam a sua criatividade, atingem níveis de bem-estar e determinam o significado e propósito para a sua vida (Law et al., 2006; Solish, Perry, & Minnes, 2010). Nos últimos anos, a participação das crianças e jovens com incapacidades tem sido enfatizada como um direito humano fundamental (UN, 2006) e reconhecida como um indicador da inclusão e do seu sucesso educativo (Eriksson, Welander, & Granlund, 2007; Law et al., 2006; Silveira-Maia et al., 2012; Simeonsson, Carlson, Huntington, & Brent, 2001). Esta crescente atenção sobre a participação dos alunos enquanto resultado da educação motivou a realização de inúmeros estudos nos últimos anos sobre a participação de crianças e jovens com incapacidade nos diferentes contextos de vida (e.g., Bedell et al., 2013; Eriksson et al., 2007; Imms, Froude, Adair, & Shields, 2016). O método comum de análise da participação consiste em recolher informação junto dos pais, dos professores e dos profissionais de saúde (Simeonsson et al., 2001; Bedell, Khetani, Cousins, Coster, & Law, 2011), negligenciando a perspectiva dos principais actores, isto é, das crianças e jovens. Contudo, a avaliação na primeira pessoa, recorrendo aos alunos como principais informadores, constitui a forma privilegiada de aproximar o investigador o mais possível da real experiência de participação das crianças e jovens com e sem incapacidades (Wade & Halligan, 2003). Neste contexto, o CAPE - Children’s Assessment of Participation and Enjoyment e CAP - Preferences for Activities of Children (King et al., 2004) tem vindo a ser descrito como um instrumento de auto-relato e de fácil compreensão para as crianças, adequado para aceder à sua perspectiva acerca da sua participação nas actividades de lazer e de recreação quotidianas (Bult et al., 2010; King et al., 2007; Ullenhag et al., 2012).
Este projecto tem como objectivo descrever o padrão de participação em atividades de lazer, formais e informais de crianças e jovens com e sem incapacidade nos seus contextos imediatos – em casa, “fora de casa” e na escola, tomando como fonte de informação a voz dos alunos a quem será administrado o instrumento CAPE-PAC. Ao cumprimento deste objetivo está inerente a validação cultural do instrumento CAPE, procurando avaliar em que medida as atividades contempladas nos seus itens são relevantes para as crianças portuguesas