O potencial educativo da velomobilidade. Perspetivas de utilizadores de bicicleta, educadores e estudantes

O potencial educativo da velomobilidade. Perspetivas de utilizadores de bicicleta, educadores e estudantes

Em curso

Sobre

 

O que se aprende a pedalar? Este é o ponto de partida que nos levará a explorar as potencialidades da velomobilidade na resposta ao desafio global que é a educação.

Noutros países, os usos de bicicletas têm sido enquadrados numa perspetiva ecológica [1], associada ao ethos Do It Yourself [2][3], bem como à emancipação de grupos minoritários[4][5][6][7], sendo valorizada como via para o desenvolvimento pessoal, a emancipação e a (re)evolução das cidades em renovados locais de encontro e humanidade[8]. Em Portugal, tem-se analisado a propensão para o uso, fatores influenciadores da mudança modal [9], barreiras e motivadores da escolha modal, perfis dos utilizadores[10] e os estilos de vida [a]. A perspetiva educativa tem sido negligenciada. O BiPEDAL cobrirá essa lacuna, focando o potencial educativo dos usos de velocípedes, para o indivíduo e para os coletivos e contextos em que se insere, com base na conceptualização das Cidades Educadoras e na teorização sobre a velomobilidade em contexto de automobilidade[4]. 

Assim, faz sentido conhecer esse potencial, transversalmente às esferas educativas - formal, não formal, informal e áreas disciplinares da educação - educação física, social, inclusiva, linguística e artística. Por potencial educativo da velomobilidade entendemos as possibilidades de aprendizagem – numa aceção integrada de cognição, perceção e movimento; e de desenvolvimento biopsicossocial – fundamentado na consciencialização dos humanos como seres corporais –  que os usos utilitários e recreativos de velocípedes podem provocar ou enfatizar nos sujeitos. Assim, interessam-nos as aprendizagens desenvolvidas, a partir da utilização do velocípede, perspetivando-o como um meio de experiênciação do real, construção de conhecimento, auto-conhecimento, interrogação crítica e transformação pessoal e social.

O BiPEDAL — acrónimo que simboliza a nossa condição humana perspetivada por uma conceção de cultura que integra a natureza — funda-se numa conceção holística, humanista e crítica da educação, reunindo uma equipa multidisciplinar com formação nessas diferentes áreas e experiência nas três esferas educativas. Une-nos a seguinte finalidade:

Compreender e potenciar a velomobilidade como meio para o desenvolvimento integral e integrado de pessoas e comunidades, favorecendo a co-construção inclusiva de cidades educadoras.

No BiPEDAL, iremos: 1) identificar barreiras culturais aos usos utilitário e recreativo da bicicleta; 2) analisar as representações e práticas que constituam fatores motivadores aos usos de bicicleta, nomeadamente, que salientem relações entre estes e a aprendizagem, o desenvolvimento biopsicossocial, a participação cívica e a inclusão de pessoas com deficiência em espaço urbano; 3) potenciar a difusão de tais relações.

Baseado na investigação-ação[11], terá uma fase interventiva no contexto educativo da instituição promotora, dado que investigar e agir em simultâneo implica, antes de mais, promover reflexão e mudança nos contextos concretos de ação em que nos inserimos. Outra fase, de pesquisa mais abrangente, será focada em diversos contextos e grupos sociais, de modo a alargar a compreensão sobre as representações e práticas que constituam barreiras e fatores culturais motivadores do potencial educativo da velomobilidade.

Na primeira fase, com estudantes de várias Licenciaturas e Mestrados, particularmente o Mestrado em Património, Artes e Turismo Cultural, realizaremos focus groups; itinerários audio-escritos-visuais, experienciados in loco; um encontro entre ciclistas, grupos promotores da mobilidade ativa e a comunidade académica, e projetos educativos de mestrado. 

Na segunda, recolheremos canções que representem a velomobilidade; mapearemos as representações e práticas da população da Área Metropolitana do Porto através de um questionário que permitirá compreender que associações se fazem entre os usos de bicicletas e a aprendizagem e que grupos mais as salientam.

Auscultaremos por meio de entrevista, as representações e práticas relacionadas com a velomobilidade de: i) utilizadores de bicicleta - explorando aprofundadamente a sua experiência e reflexões sobre a mesma; ii) pessoas idosas ex-utilizadoras de bicicleta - com intuito de trazer lições do passado para o futuro, no que respeita à mobilidade ativa; iii) pessoas com deficiência - com foco nos fatores específicos que as aproximam e/ou afastam dos velocípedes; iv) representantes de organizações educativas; representantes municipais e da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras. A análise das representações e posicionamentos destes dois últimos grupos serão particularmente articuladas, no sentido de compreender o(s) conceito(s) de Cidade(s) Educadora(s) defendidos e operacionalizados por estes atores, bem como o lugar que consideram ocupar na co-construção dessa(s) cidade(s) e na promoção da velomobilidade, em particular.

Conhecer o potencial educativo da velomobilidade transportar-nos-á para uma prática holística, coletiva, inclusiva e espacial da educação. O BiPEDAL começará por inovar práticas pedagógicas, articulando docentes e estudantes de diferentes áreas de formação numa temática transversal e favorecendo a aprendizagem experiencial [12] fora das «quatro paredes». Tal experiência permitirá construir estratégias pedagógicas que poderão ser adaptadas noutros anos letivos, neste e noutros contextos educativos. As conclusões da auscultação dos vários grupos populacionais e de representantes organizacionais permitirão construir uma lista de recomendações para a mudança de políticas e práticas educativas, organizacionais e da administração pública. O cancioneiro ciclista e o filme etnográfico com cenas de vários momentos de investigação-ação constituem produtos que alargarão o impacto do projeto ao público em geral.

 

Referência do projeto: inED/2020/2

Data de Início

Data de Fim

Grupo de Investigação

Coordenador Interno
Membros Internos
Parceiros
MUBi- Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta
BYCS