Sobre
Na atualidade a acessibilidade estética e educacional às diversificadas manifestações, eventos e obras artísticas, quer em contextos museológicos, quer em outros contextos culturais são aspetos prementes que carecem, urgem ser investigados.
O papel dos equipamentos e agentes culturais, comprometidos nas suas funções de “educação estética” do público, tem sido tema de discussão no panorama das políticas culturais “oficiais”. Tradicionalmente, a responsabilidade pela enunciação dos valores estéticos e culturais, em termos de explanação teórico/prática, era atribuída aos museus e individualidades consagradas pelas Academias. Atualmente, os equipamentos culturais associam-se a “autoridades” reconhecidas – quer teóricos, quer criadores, pairando as dúvidas com frequência. Os estudos sobre a educação estética precisam de uma análise e reflexão crítica, subsumida às noções de “gosto”. Contrariamente ao que se pense, no respeitante à Formação de público para as artes, as ideias e argumentos relevantes datam do séc. XVIII, quando em Inglaterra, filósofos como John Locke e David Hume avançaram com reflexões acerca do Standard of Taste. Na Alemanha, Kant procurou a resolução filosófica para a Antinomia do Gosto. Depois da abordagem de Schiller nas Cartas de Educação Estética e até aos nossos dias, permanece, revigora-se mesmo a pertinência de um aprofundamento balizado na diversidade das estéticas e pensamentos críticos sobre as artes.
É imprescindível configurar os “denominadores comuns” que viabilizem a compreensão das artes (hermenêutica e epistemológica). Importa promover a análise, decifração, interpretação, para que se atinja o “reconhecimento” por via da disponibilidade mediante o “i-reconhecimento” que, com frequência, domina os públicos para a Arte (dita) contemporânea ou atual.
A heterogeneidade constitutiva do “público” acompanha a diversidade de obras, médias e produções já não mais subsumíveis às categorizações dominantes em moldes convencionais. À classificação e correspondência das artes sucedeu uma interpenetrabilidade das mesmas (lembre-se Étienne Souriau), verificada, com particular incidência, nas derradeiras décadas do séc. XX e até hoje.
Por outro lado, sendo arte e vida, exigências de cultura e educação, cabe desempenhar o papel propugnado por Ernesto de Sousa: “operador estético” através de ações/ intervenções validadas por balizas disciplinares, culturais, artísticas e educacionais.
A partir dos princípios constitutivos, o projeto visa explorar 4 eixos diferenciados:
- PARA UMA ESTÉTICA EDUCACIONAL: Acessibilidade(s)
- DO (I)RECONHECIMENTO NA ARTE CONTEMPORÂNEA
- FORMAÇÃO DE PÚBLICOS para ARTE CONTEMPORÂNEA
- FORMAÇÃO DO GOSTO ATRAVÉS DA ARTE PÚBLICA
Missão estética Senhora da Pena | Gerês - Residência de pensamento e criação
No contexto do Projeto de Investigação em epígrafe, retoma-se a linha de Microprojectos, no formato de residência de curta duração, com participação de investigadores da CAE/INED, do Dipartimento di Lingue e Culture Moderne /Università degli Studi di Genova, do INET-MD / Universidade de Aveiro, artistas e convidados. Ativam-se, pois, os projetos de residência artística, em contexto de pesquisa e criação multidisciplinar, tendo como participantes: um escritor (Roberto Francavilla), um fotógrafo (Fillipo Romano), um compositor (Francisco Monteiro), a que se associa uma cineasta e artista visual (Ana Pissarra) e uma desenhadora (Fátima Lambert). No período pós-pandémico, ao refletir sobre as experiências pessoais decorrentes do confinamento e quebras de proximidades presenciais - em termos societários - surgiu a ideia de desenvolver uma residência artística no lugar da Senhora da Peneda/Gerês. A sugestão configurou-se a partir da motivação do Pároco local, Padre César Neves e de Ana Pissarra, que visitara/permanecera na aldeia por ocasião da realização de um documentário sobre “manifestações religiosas profanas” para a RTP2. O lugar da Senhora da Peneda localiza-se na Serra do Gerês, isolada e quase despovoada, com exceção do mês de agosto, quando regressam e permanecem pessoas de famílias locais, a viverem fora de Portugal, mormente em França. Nesse mês realizam-se as gestas em honra da Senhora da Peneda que se revestem de um interesse significativo, caraterizando-se por circunstâncias diferenciadoras, relativamente às habituais, neste tipo de celebrações. A convergência de diferentes tipologias de Património nesta pequena povoação permanece, todavia, no desconhecimento da maioria, mesmo na região Norte de Portugal. Encontra-se, bastante perto da “raia”, fronteira a Espanha. Com impulso do Pde. César Maciel, apesentase esta residência com intuito de conhecer, analisar, refletir e divulgar as especificidades que definem a comunidade, as pessoas; o território, natureza e paisagem; as práticas tradicionais; as práticas religiosas; as memórias coletivas e individuais. Durante esta primeira residência pretende-se identificar e obter dados sobre as tipologias patrimoniais e culturais para serem trabalhadas em contexto formativo com os estudantes da licenciatura de Gestão do Património Cultural e do mestrado em Património, Arte e Turismo Cultural. Assim, serão chamados a participar os investigadores-estudantes com afinidade a estas determinantes antropológicas, artísticas e estéticas de fundamentação sociológica e histórica – sempre almejando a boa e plural compreensão do património.
Cruzam-se pesquisas e investigações anteriores, nas áreas disciplinares específicas das pessoas envolvidas neste microprojecto, ainda que tomando como denominadores comuns (persistentes e/ ou pontuais) problematizações a partir de: Teorias da paisagem, natureza e território; poéticas caminhadas e derivas estéticas; estéticas da identidade pessoal e coletiva; filosofias do património; estudos literários; estudos sonoros e musicais; estudos artísticos. Na região já não existem artesãos que trabalhem o barro ou a tecelagem. Procurar-se-á iniciar um levantamento de evidências; recolher testemunhos materiais e imateriais/reais e imaginários; registar que se vê e o que se ouve. Acalenta-se a disponibilidade de cada protagonista de investigação-criação, num habitat-ambiente de “retiro estético” que será também autoscópico, proporcionando experiência multissensorial e de pensamento. Nas palavras de Ana Pissarra, refletindo sobre a sua primeira estadia no lugar: “Na envolvência veem-se garranos, vacas e aldeias abandonadas muito bonitas, natureza verde e poética, caminhos mágicos, cruzes, peregrinações, músicos, penedos da fertilidade, colmeias e bebidas alcoólicas locais, licores e vinhos, comidas da região, ar puro e silêncio, população idosa e rural, vistas e paisagens criadas por Deus para nos deslumbrar.... mas não há artistas”.
Mais informações sobre Missão estética Senhora da Pena | Gerês - Residência de pensamento e criação
Refª inED/2013/1